quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Ignacy Sachs: "vivemos sob as ruínas dos antigos paradigmas econômicos"

Ignacy Sachs: "vivemos sob as ruínas dos antigos paradigmas econômicos"

É com base nessa idéia que o economista Ignacy Sachs defende a necessidade de criar novas formas de produção que sejam socialmente includentes e, ao mesmo tempo, considerem os impactos ambientais. Cidadão francês, Sachs nasceu na Polônia, em 1927, e viveu catorze anos no Brasil. Formou-se em economia na antiga Faculdade de Ciências Políticas do Rio de Janeiro, hoje Cândido Mendes, e fez doutorado na Índia, onde teve profundo contato com o pensamento de Mahatma Gandhi. Ficou conhecido na década de 1970 por seus estudos sobre inclusão social e desenvolvimento.

Professor na École des Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris, na qual é co-diretor do Centro de Pesquisas sobre o Brasil Contemporâneo, Sachs é enfático ao falar que os maiores desafios que a humanidade enfrenta no começo deste século são as mudanças climáticas, a necessidade de alterar drasticamente a matriz energética e os déficits crescentes de oportunidade de trabalho decente no mundo todo.

Para ele, o processo de substituição do petróleo, elemento central na luta contra as mudanças climáticas, deve contribuir diretamente para a solução da escassez de empregos. Suas idéias sobre o modelo social necessário para essa transição são tratadas na obra de sua autoria Desenvolvimento Includente, Sustentável, Sustentado, publicada em 2004 pela editora Garamond, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Sachs acredita que estamos passando por aquilo que os demógrafos chamam de desindustrialização. As empresas perderam grande parte da participação na geração de empregos. "Não podemos ter a ilusão de que as cidades vão continuar absorvendo a população do campo", afirma.

A resposta para essa questão, diz Sachs, está num modelo de desenvolvimento rural que agregue as atividades dos pequenos produtores aos negócios das grandes empresas e crie oportunidade de trabalho e renda. Ao mesmo tempo, é preciso combinar as grandes plantações usadas para biocombustíveis com a pecuária e o cultivo de hortifrutigranjeiros.

"O Brasil precisa aproveitar essa enorme janela de oportunidades e construir um modelo social com a indústria fomentando o desenvolvimento rural", afirma o economista. "Caso contrário, vamos gerar muita renda, mas uma grande favela", continua.

A soja é um bom exemplo, segundo ele. Apesar de ser a bola da vez em termos de custo e benefício, sua produção utiliza pouca mão-de-obra. Estima-se que, para cada 100 ou 200 hectares de plantação de soja, apenas um emprego direto seja criado. "Teremos ou não uma política pública e instituições capazes de pautar o mercado por meio de um conjunto de critérios que inclua questões ambientais e sociais? Esse é o tema do dia", conclui.

A seguir, os principais momentos do diálogo com Ignacy Sachs, que aconteceu no auditório do Instituto Ethos, no dia 23 de março de 2007, e contou com a participação de Cláudia Izique, editora do Mercado Ético.

Instituto Ethos: Em nossa opinião, a discussão sobre as bioenergias gira em torno da seguinte dúvida: deve-se produzir energia para as máquinas ou para pessoas? Qual será a alavanca para construir o novo modelo social defendido pelo senhor? E qual seria a função social da empresa?

Ignacy Sachs: O futuro está no desenvolvimento negociado. Cada parceiro terá seu papel e sua função. Eu não colocaria sobre a empresa a incumbência de definir uma estratégia de desenvolvimento nacional ou um projeto nacional. Também não daria a ela o ônus de se responsabilizar por tal projeto. A empresa foi feita para gerar receita. Sua eficiência é medida pelos seus ganhos. O problema é saber até que ponto ela aceita que seus lucros possam ser obtidos por meio de outro modelo de atuação. E o papel do Estado me parece muito importante para essa mudança. O Brasil precisa de um projeto nacional. Não estou fazendo um juízo de valores, mas havia um projeto nacional quando Juscelino Kubitschek lançou o seu ?50 Anos em Cinco?, transferiu a capital para Brasília, criou a indústria automobilística... O país teve também o Estado Novo de Getúlio Vargas. Mas qual é o projeto brasileiro hoje? Onde está o debate? Qual a nossa visão do futuro? Vamos deixar que as favelas cresçam cada vez mais? Vamos aceitar apenas a regulação que vem imposta? Que tipo de desenvolvimento nós queremos? O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) anunciou recentemente um número extraordinário: existem no Brasil 50 milhões de hectares de terra para 1 milhão de famílias. Essa área corresponde ao território da França. E o que está acontecendo com essa França? Não basta distribuir terras e dizer que a reforma agrária está feita. É preciso capacitar a gente do campo para a agricultura familiar, pois a herança da época colonial não é de uma economia camponesa. Essa gente precisa ser assistida no dia-a-dia, necessita de crédito, de outras fontes de financiamento. Há o Banco do Nordeste e o programa Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS), do Banco do Brasil, por exemplo, mas ainda é possível melhorar isso. Além disso, há depois o problema de acesso ao mercado. Somente quando essas questões forem levadas em conta, o governo poderá dizer que fez a reforma agrária. O que me parece acima de dúvida é que o Brasil necessita de um programa de transformação de terras em vilas agrícolas.

Mercado Ético: O senhor falou da importância da regulação do mercado. Qual seria o esforço necessário para sair de um sistema de mercado livre, como o que predomina hoje, e fazer o caminho de volta para um Estado desenvolvimentista, como foi no passado?

IS: Não haveria um caminho de volta. Acho que a principal alternativa para o Brasil é transformar o licenciamento ambiental. que já está bem estruturado, num licenciamento social e ambiental. Esse seria o caminho mais prático e rápido. Estive com o secretario de Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais, João Carlos de Carvalho e ele também pensa dessa maneira. Acredito que não seria difícil fazer isso.

Agencia Envolverde: As empresas costumam obter ganhos financeiros com a eliminação do trabalho humano e freqüentemente fecham suas portas para os jovens, em nome de uma maior produtividade. Um exemplo é a troca do office-boy, menino que vivia dentro das organizações, aprendendo diversas tarefas, pelo motoboy, que anda colocando sua vida em risco pelas ruas e não adquire nenhum conhecimento sobre a empresa. Esse problema não faz parte do core business das empresas. O que deve ser feito para que elas mudem de comportamento?

IS: O mercado de trabalho é a base de tudo isso. As indústrias não têm mais potencial de gerar empregos diretos. Esse é um fato típico da fase de progresso técnico que estamos atravessando e deveria ser o ponto de partida para definir a estratégia nacional de geração de trabalho. Escrevi sobre isso no meu livro Desenvolvimento Includente, Sustentável, Sustentado, publicado em 2004. Se não há emprego nas indústrias, onde vamos gerar empregos? Primeiro, é preciso expandir a rede de serviços sociais básicos, como educação, saúde, saneamento e, talvez, habitação popular. Esses serviços atingem diretamente o bem-estar da população, sem nenhuma mediação do mercado de trabalho. Em segundo lugar, vamos olhar para os empregos indiretos e a conexão entre as grandes empresas e os pequenos produtores. Mesmo que não seja possível abrir vagas no núcleo central modernizador da empresa, pode-se articulá-las por meio de políticas conscientes de geração de empregos. A integração da agroindústria com pequenos produtores, com maior transparência e controle social sobre os contratos entre as grandes empresas e os pequenos provedores de insumo, é absolutamente importante na busca de oportunidades de emprego. Não acredito no futuro das indústrias intensivas de mão de obra. As empresas desse segmento estão submetidas à competição impiedosa entre os países do Sul, a começar pela China. O setor calçadista no Brasil é um bom exemplo. Indústrias brasileiras de calçado e têxteis se transladam para a China com facilidade. Portanto, é necessário voltar aos ramos de produção em que não há competição estrangeira, como construção civil, obras públicas e agricultura. Temos de buscar empregos onde exista a possibilidade de gerá-los. O que aconteceria se amanhã colocássemos 100 mil operários para realizar o projeto de cisternas no Nordeste, pagando a cada trabalhador um salário mínimo gerado pelo volume de crédito vindo da produção do dendê? Os 100 mil operários provocariam uma demanda adicional de feijão, arroz, cachaça, alpargatas e jeans. Os economistas brasileiros escrevem páginas sobre o milagre chinês, mas 90% do sucesso da China provém de projetos como esse. Falei das cisternas, mas existem mil projetos de irrigação ao longo do Rio São Francisco que deveriam ser considerados, em lugar de se optar por projetos faraônicos. Por que não construir estradas, por exemplo? Tem um milhão de coisas que poderiam ser feitas nesse sentido. Esse é o novo modelo rural que pode fomentar o desenvolvimento brasileiro.

Instituto Ethos: O senhor comentou que as empresas Susano Papel e Celulose e Votorantim são casos de sucesso em consórcios rurais. O que elas estão fazendo e o que as motivou a mudar de atitude?

IS: Durante muito tempo essas empresas tiveram a política de comprar fazendas, plantar e cortar árvores dentro de uma operação vertical da própria empresa. O cultivo de eucaliptos excluía a população local do modo de produção, deixando muitas vezes grandes bolsões de subemprego e desemprego. A situação gerou conflitos com os movimentos sociais do campo. Na verdade, o problema não está na produção de eucalipto, mas na forma como se exerce essa atividade. A alternativa é terceirizar os serviços quando houver demanda pela madeira e não verticalizar a operação dentro da própria empresa. É isso que essas duas companhias estão fazendo. Tanto a Susano como a Votorantim passaram a optar por consórcios rurais com agricultores familiares da região. É uma forma de abrir o diálogo como base do desenvolvimento negociável, pelo qual a grande empresa assina contrato de fomento com o pequeno produtor. Ela compra, fornece as mudas de eucalipto, que levam sete anos para chegar ao ponto de corte, dá assistência técnica e oferece uma renda por antecipação pela madeira que será cortada no sétimo ano. Assim, o pequeno agricultor poderá contar com uma renda mensal por essa atividade. E isso envolve centenas de pessoas. O importante é descobrir como consorciar as atividades da indústria com outras que vão gerar mais empregos e renda localmente. O curioso é que sem o Movimento dos Sem Terra (MST) provavelmente esse diálogo não teria acontecido, na minha opinião. Essa é a dialética da História. As grandes empresas sabem que os resultados do investimento de bilhões de dólares no setor de papel e celulose podem ser inviabilizados se houver movimentos sociais violentos atacando a base florestal. Estamos falando de uma visão de longo prazo,um pouco de responsabilidade social e muito bom senso. É uma forma de fugir do estigma do latifúndio. E isso também está sendo discutido com as empresas siderúrgicas que utilizam de carvão vegetal.

BBC Brasil: Como o governo brasileiro se inclui no debate sobre as variáveis ambientais? O desenvolvimento sustentável está sendo considerado nas políticas do governo ou ele está preocupado somente com o crescimento?

IS: Conversa ou fatos? Se considerarmos, em princípio, o programa nacional de energia de biocombustíveis, as publicações do núcleo de negócios estratégicos e a legislação que instituiu o selo social para o biodisel, a sinalização é de que haverá oportunidade para a agricultura familiar. Não posso responder se os instrumentos que temos hoje são suficientes, mas suspeito que falta apertar alguns parafusos do sistema no setor de biodisel, em que estamos começando do zero e temos a oportunidade de fazer o que quizermos. Já na área do etanol, em que a situação é muito mais complexa e envolve um número muito alto de grandes empresas e usinas, bem como o capital estrangeiro que entra todos os dias, acho que não há a mesma sinalização.

BBC Brasil: Qual é a sua opinião sobre o papel da biotecnologia na produção de alimentos? E em relação aos transgênicos?

IS: A minha visão do futuro deste país está relacionada com uma enorme potencialidade do que eu chamo de biocivilização?, ou seja, o aproveitamento da biomassa como alimento, ração animal e adubo verde e para a produção de bioenergia, material de construção, fármacos e cosméticos. O Brasil tem uma vantagem competitiva muito forte nessas áreas. Possui pesquisa agronômica e biológica de nível internacional e uma indústria de equipamentos que está entre as mais avançadas do mundo no que diz respeito à agroenergia. Precisa potencializar essas vantagens comparativas naturais por vantagens construídas por meio de muito mais pesquisa e organização no campo. Temos biotecnologias para aumentar a produtividade da biomassa e biotecnologias para abrir o leque de produtos derivados dela. O trinômio biodiveridade, biomassa e biotecnologia é o ponto de partida para a construção da biocivilização, que é a melhor resposta aos desafios do século ? um desenvolvimento socialmente includente e ambientalmente sustentável e sustentado. Quanto aos transgênicos, não tenho uma atitude religiosa em relação a eles. Não digo que por definição eles sejam ruins. Também não tenho essa posição em relação à energia nuclear. Por outro lado, em ambos os casos acredito que deva haver prudência nos avanços. No caso da energia nuclear, a coisa é simples. A probabilidade de acontecer um acidente nuclear é infinitamente pequena, mas a possibilidade de que essa probabilidade infinitamente pequena gere um estrago extremamente grande é enorme. Esse é um problema ético e político, querer correr o risco de expor a humanidade a uma probabilidade mínima de um acidente de grandes proporções. Como cidadão votaria contra a energia nuclear. Com os produtos transgênicos eu tenho uma atitude ainda mais prudente. Não está provado que acidentes graves podem ocorrer com o uso dos transgênicos. No entanto, produzir um organismo geneticamente modificado apenas para aumentar em 5% o lucro de uma transnacional não me parece sensato. Isso não quer dizer que devamos fechar as pesquisas relacionadas a produtos transgênicos. Os transgênicos são um resultado do progresso da biotecnologia. Ele tem seus perigos, mas precisamos olhar isso com mais calma, pois as perspectivas que se abrem são interessantes. Dentro deste meu conceito de biocivilização, há o conceito da biorefinaria. Isto é, a exemplo do que ocorre com o petróleo, um mundo cada vez maior de produtos e derivados irá surgir a partir da biomassa.

Revista Adiante: De que maneira os intelectuais que produzem grandes idéias poderiam influenciar nas políticas públicas?

IS: Cada macaco no seu galho. A função dos intelectuais é produzir idéias. Qual vai ser o destino de suas propostas e se elas terão impacto na realidade política ou irão gerar uma reação negativa não dá para prever. Mas, em última instância, tudo depende do jogo das forças políticas. O que nós podemos fazer é lançar algumas idéias e tentar convencer a opinião publica. Eu acho estranho quando dizem que a opinião publica é contra o Estado. Quem é sempre contra o Estado são os jornais e revistas. Mas a grande imprensa não é a opinião pública. Ela é o instrumento de ingerência na opinião pública. Sendo gentil, eu diria que a imprensa é formadora da opinião pública. Sendo direto, digo que a imprensa tenta ingerir na opinião pública e se autoproclama como expressão da opinião pública, enquanto muitas vezes expressa apenas a opinião daqueles que apitam dentro da empresa de comunicação. Portanto não podemos prever qual será o destino das idéias. A história não pode ser escrita na contramão.

Instituto Ethos: Como as empresas podem se articular para promover o movimento de aplicação das tecnologias de desenvolvimento social e como avançar nas políticas nacionais de apoio ao desenvolvimento local?

IS: A rede de tecnologias sociais não tem uma definição muito feliz, na minha opinião, porque tecnologia não é social. Prefiro defini-las como tecnologias de impactos sociais. São técnicas baratas e susceptíveis de um amplo uso. Acredito que esse seja um tema extremamente importante e um dos elementos altos dos dispositivos da política desenvolvimentista do Brasil. Sou fã de uma delas, chamada Produção Agroecológica Integrada Sustentável (Pais) [sistema que alia a produção de hortaliças e a criação de pequenos animais, com patos e galinhas]. Constitui-se numa espécie de mandala de mil hectares com um galinheiro instalado no centro para obtenção de ovos e de esterco. No entorno, desenvolvem-se vários canteiros em círculo para a plantação de hortaliças, com um sistema de irrigação por gotejamento muito simples e econômico. Cada unidade do projeto custa R$ 4,5 mil e a produtividade em geral é positiva. A questão agora é como multiplicar essa idéia. Isso pode modificar a situação de um bóia fria. Esse é o tipo de coisa que deve ser levado para a frente e incentivado. Aproveito para dizer que o Brasil tem uma situação extraordinária, onde mesmo as empresas públicas se sentem responsáveis. Existe um belíssimo programa do Banco do Brasil que se chama Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS). Esse programa funciona em 2.500 municípios, com uma carteira de crédito que, dividida entre o banco e parceiros, chega a R$ 1,4 bilhões, um grande negócio. Pode se discutir em tese se o banco deve se envolver nesse movimento. É um caso especial de responsabilidade social em uma empresa pública. Mas eu ficaria mais tranqüilo se em todos os municípios houvesse alguém que desenvolvesse esse projeto, sem esperar pelo Banco do Brasil.

Instituto Ethos: São poucos os intelectuais e pesquisadores que atuam e se dedicam de forma tão profunda aos temas sociais a ponto de ter respostas tão surpreendentes. O senhor previa o fim da era do petróleo em seu momento mais áureo. Qual é a sua sensação em saber que construiu um conhecimento que é fundamental para a sociedade?

IS: Você quer saber como um dinossauro que teve a chance de passar de um século a outro vê o percurso? Vou publicar no final deste ano um livro autobiográfico intitulado A Terceira Margem do Rio. Peguei o título de um conto do escritor Guimarães Rosa que fala de um pescador que um dia avisa sua família que não voltará para casa enquanto não encontrar a terceira margem do rio. É assim que me sinto em relação ao socialismo que procurei construir durante toda a minha vida. E à beira do capitalismo ainda procuro essa terceira margem, embora duvide muito que a encontre antes do dia em que me mude de domicílio de uma vez por todas. O momento que passamos hoje é muito interessante. Estamos vivendo sobre ruínas de grandes paradigmas. No ano de 1945, partíamos de três idéias-chave que os dois lados da cortina compartilhavam: pleno emprego como objetivo central das políticas de governo; um Estado protetor e provedor de serviço social de base; e planejamento para evitar desperdício de recursos. Quando, em 1944, em Londres, Friedrich Hayek escreveu os panfletos O Caminho da Servidão, contra o planejamento, era ele o dissidente. Foi com base nesses três ideais que o capitalismo conheceu sua fase de ouro. O período ficou conhecido como os 30 anos gloriosos. A ele se pode atribuir alto crescimento econômico, progressos sociais indiscutíveis e uma tremenda destruição do meio ambiente. O outro lado da cortina de ferro mantinha os mesmos objetivos. Ninguém contestava que era preciso ter pleno emprego no socialismo, por exemplo. O embate era sobre os métodos usados para atingir essas metas. Em 1969, com a invasão da Tchecoslováquia, o capitalismo saiu vitorioso e acabaram-se as chances de um mundo socialista. Com Margareth Thatcher e Ronald Reagan, começa a fase do neoliberalismo, que abala seriamente o keynesianismo e o Estado atuante do capitalismo reformado. O Consenso de Washington, que surgiu com a contra-reforma liberal, não cumpre suas promessas. A socialdemocracia entra numa crise aguda, porque foi longe demais na aceitação da economia de mercado. Ao abandonar a economia de mercado, o Estado procura remendar os efeitos sociais negativos por meio de políticas sociais compensatórias. Os avanços nas questões ambientais são poucos até 1992. Ou seja, o movimento ambiental está na contramão do neoliberalismo. Atravessamos um período da História em que os antigos paradigmas não funcionam mais. Temos a obrigação de criar outros modelos de produção econômica. E eu acredito que os desafios são esses que citei para vocês.

(Instituto Ethos)

Disponível em: <http://mercadoetico.terra.com.br/noticias.view.php?id=65>.
Acesso em: 11 dez. 2008.

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